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Alan
Contem spoilers e o site referido no final já não mais existe. O texto é de 2010 ou 2011, não sei ao certo.
"Já se passam 5 anos desde que vi pela primeira vez o filme russo O Retorno. Até então tinha uma vaga lembrança sobre ele, apesar de também ter em mente que havia gostado muito, mas não era um trabalho que havia me marcado. Bobagem e pouca idade minha, ainda bem que tenho colocado muitos títulos pra uma revisão ultimamente, esse longa é uma obra intensa e arrebatadora e que, com toda certeza, acabou de se tornar um dos meus filmes preferidos. Lugar de onde não deveria ter saído nunca.
Trabalho de estreia do pouco conhecido Andrei Zvyagintsev, que apesar de ter somente duas obras na filmografia, são ambas de um apuro estético sensacional, como pouco se vê no cinema. Lançado em 2003, o filme arrebatou não menos que o Leão de Ouro no Festival de Veneza e mais 40 indicações e 28 vitórias em prêmios internacionais. O currículo é realmente invejável e o longa realmente faz por merecer cada uma dessas premiações.
Passado num gélido vilarejo no Norte da Rússia, a sequência inicial já é de um simbolismo absurdo, quando o mais novo dos irmãos, Ivan, é pressionado psicologicamente pelos amigos e pelo irmão a pular do alto de uma represa. Num esforço falho, o menino é protegido pela mãe e zombado pelos amigos, que o acusam de covardia. De início, podemos perceber uma relação um tanto conflituosa entre os irmãos e, de fato, há. E a coisa se torna bem mais complicada quando o pai, ausente a 12 anos, retorna repentinamente, sem explicações ou como eles mesmo dizem: “Simpesmente retornou”. Sem dizer aonde estava ou o que fazia – e esse talvez seja um dos pontos mais interessantes do roteiro, instigar a imaginação do espectador sobre o passado do pai. Com a direta aceitação do mais velho, Andrei, e a desconfiança do mais novo, os filhos são convidados pelo pai para uma pequena viagem de reconciliação. E é então que O Retorno se torna uma densa e metafórica jornada, não só sobre a relação conturbada entre pais e filhos, mas também sobre o auto-conhecimento, sobre os anseios e limites psicológicos de cada um deles.
Sem pretensões, há muito de Tarkovsky no filme (mas quantos diretores russos não foram influenciados pelo mestre?), desde a fotografia, um trabalho realmente admirável feita em tons azuis e cinza, até os planos, que modéstia a parte, são sensacionais (cada enquadramento é de uma perfeição assustadora). Mas Zvyagintsev soube muito bem dosar essa influência e colocar algo muito pessoal no trabalho, que fica explícito ao se chegar em certo ponto do desenvolvimento da narrativa e as coisas irem pra além da contemplação. Não, não se trata de correção, mas apenas de seguir um caminho fora do senso comum que outros diretores, usando das mesmas referências fariam. E são por tais razões que o filme se torna a grande obra de arte que é.
Visceral e arrebatador. Um filme que merece muito estar além do esquecimento fácil da nossa consciência. Precisa ser visto, debatido e adorado!
De: http://juniorholden....gory/o-retorno/"
"Eu senti meu ouvido fechado e fiquei um pouco surdo por alguns segundos. Nesse momento, aconteceu uma coisa muito estranha. O barulho da fábrica sumiu, eu ouvi meu próprio coração. E pela primeira vez, parei pra ver a fábrica, e senti uma tristeza por estar ali. Percebi que na verdade, eu não conhecia ninguém, que tudo aquilo não significava nada pra mim. Foi como acordar de um pesadelo"