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Si belle! Cybèle?

Últimas opiniões enviadas

  • Helder M

    Meio que inevitável fazer um paralelo com o Coda (2017). Enquanto o filme anterior se detém no material histórico, motivacional e filosófico por trás da produção musical e estilística de Ryuichi Sakamoto, Opus (2023) se despe de qualquer artifício mais imediato de racionalidade ou complexidade, e foca exclusivamente na música e no instrumentista em seus momentos finais nesse planeta. Não há introdução, narração, ou mesmo legendas nomenando as peças para os não iniciados na música do compositor japonês (há os créditos no final).

    A câmera de Neo Sora, filho do compositor, invariavelmente abraça detalhes como os mecanismos internos do piano, os martelos e abafadores, ou as expressões do seu pai, seja de concentração, satisfação ou mesmo esforço, como se tentasse visualmente se conectar com os aspectos mais íntimos de sua alma. É enternecedor ver tanto o compromisso emocional como a aplicação física do debilitado, mas ainda habilidoso artista, acionando cada tecla do piano. Em Coda, Sakamoto revelou sua fascinação pela ideia do som perpétuo. Aqui, agravado pelo seu estado físico, as músicas são tocadas em ritmo mais lento, mas a acústica permite que a reverberação da nota anterior se perpetue por alguns instantes antes da nota seguinte. Penso que Sakamoto adequou sua condição física há essa concepção musical de finitude, mas também de conexão e perpetuação.

    Ainda que o foco seja a música, o filme procura manter um retrato fiel do momento crítico do músico. Em certo momento, ele falha numa das peças (Bibo no aozora), continua. Em outro momento balbucia alguma coisa que não entendo (não há legendas). É um filme que deve ser visto sob o contexto do momento, como uma despedida tanto de Sakamoto para a música, como um legado para os que ficam e apreciam sua obra. A última cena do filme é o piano sendo tocado, mas Sakamoto não está mais vísivel. A vida é curta, a arte é longa (Ars longa, vita brevis).

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  • Helder M

    Ficção científica tcheca baseada na obra de Stanilaw Len, mesmo autor do famoso Solaris, adaptado para o cinema pelas mãos de Tarkovski. Por ser do mesmo autor, é natural que se veja muita semelhança de atmosfera. A influência ao 2001 de Kubrick também pode ser debatida, ainda que aparentemente não seja algo declarado. Preferencialmente tenho muito mais apreço por essa ficção científica comunista que as fatalistas e distópicas produzidas por influência do realismo capitalista, sempre apontando para conflitos, invasões alienígenas, etc. Ursula K. Le Guin, apesar de norte-americana, entra nesse rol de uma ficção científica que abraça a utopia como horizonte, mas sem fugir das intempéries que a realidade impõe. Neste sentido, vale notar a cena na qual os tripulantes de Ikari dão de encontro com uma amostra do passado, uma nave de séculos atrás, provavelmente norte-americana, e o destino trágico que escondia. Um dos tripulantes nega que aquelas pessoas de um passado distante sejam os seus antepassados, enquanto outro rebate que não podemos escolher nossos ancestrais, eles são o que são. Remete ao conceito "centralidade do presente" adotado por Marx, de ver o presente como um fluxo que ilumina o passado, mas sem adotá-lo como uma régua para entendê-lo com nossos conceitos atuais.

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  • Helder M

    Shimizu há tempos já vinha trabalhando com o universo infantil e sua relação com o mundo adulto. Mas nesse, pelo contexto do pós-guerra, todo o drama das crianças parece mais pungente. Logo de início o filme faz referência a outro filme do diretor, filmado durante a guerra em 1941, chamado Mikaheri no Tou (Instrospection Tower), que lidada com crianças problemáticas tentando se adaptar a vida em um reformatório, e a história girava em torno desse contexto de socialização e entendimento da importância do companheirismo, tendo adultos como guias dessa jornada. Aqui o adulto mais importante é um ex-combatente que, voltando a sua terra devastada, observa a vida desregrada de crianças orfãs e sem amparo, precisando ele mesmo encontrar seu caminho, além de, por iniciativa própria, tentar direcionar essas crianças para um futuro mais digno. Há muitos paralelos com o neorrealismo italiano, tanto pelo modo como lida com o espaço físico e sua relação com os personagens (a relação com o mar, a montanha, e os escombros das cidades), como pelo profundo humanismo que perpassa todo o filme.

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